PLANETA EM MOVIMENTO

quinta-feira, 26 de maio de 2011

BOI BUMBÁ


O Boi-Bumbá é uma manifestação folclórica que surgiu no Nordeste do país mas disseminou-se por quase toda a Amazônia, especialmente no estado do Amazonas, visitado anualmente por milhares de turistas interessados em conhecer o famoso Festival Folclórico de Parintins. É provável que sua origem esteja ligada às histórias nascidas com o ciclo do gado nos séculos 17 e 18, quando a vida girava em torno do boi e de sua criação. Conta-se que na Belém da segunda metade do século 19, o Boi-Bumbá reunia negros escravos em um folguedo que misturava ao ritmo forte a representação de um motivo surpreendente para a época: a luta de classes dentro da sociedade colonial. O boi acabou se tornando uma das manifestações mais autênticas da cultura paraense.



A história encenada no Boi-Bumbá é quase sempre a mesma, com pequenas alterações. Um boi foi comprado para a festa de aniversário da esposa do fazendeiro. Quando o animal chegou, o feitor recebeu ordem para tratá-lo bem. Ao lado dessa fazenda morava uma família composta pelo pai Francisco, "Chico", sua mulher Catarina, seu compadre Casumba e mãe Guiomar. Mãe Catarina, grávida, desejava comer língua ou coração de um boi, e Pai "Chico" então resolveu procurar um. O primeiro que encontrou, matou. Só que antes da mãe Catarina realizar seu desejo apareceu o dono do boi falando que o bicho era de estimação e que desejava tê-lo de volta, vivo.



Todos saíram à procura de um pajé para ressuscitar o boi. O pajé foi logo pedindo cachaça, defumação e tabaco. Sentou-se no seu banco, passou cachaça nos braços, acendeu um cigarro e abriu os trabalhos. Assim que o boi foi ressuscitado todos cantaram e dançaram. É aí que o animal começa a fazer investida contra as pessoas que assistem à encenação. A composição do elenco varia de grupo para grupo e de região para região. De um modo geral todos incluem ainda a moça branca filha do casal de fazendeiros, vaqueiros, um preto velho, a maloca dos índios com seu chefe, o doutor curador, o padre e o tripa (a pessoa que dança em baixo do boi).



Parintins, localizada a 392 quilômetros de Manaus, na ilha de Tupinambarana, à margem direita do rio Amazonas, é um dos principais celeiros culturais da Amazônia. O Boi-bumbá, tradição celebrada inicialmente como uma festa no meio da rua, atualmente reúne uma multidão de 40.000 pessoas que assistem à disputa entre os dois bois representados pelos grupos Vermelho, ou Garantido, e Azul, ou Caprichoso. Na década de 60 o boi-bumbá foi para as quadras criando então o Festival Folclórico. Em 1985, montou-se um bumbódromo de madeira, com arquibancadas, camarotes e uma arena cimentada para a apresentação dos grupos. Em 1988, foi inaugurada a versão em alvenaria, definitiva. A festa, realizada todos os anos nos dias 28, 29 e 30 de junho, começou quando em 1912 a comunidade passou a levar o boizinho de pano de Lindolfo Monteverde, chamado de Garantido, para brincar no quintal de moradores ilustres.



O Festival Folclórico de Parintins é uma festa popular realizada anualmente no último final de semana de junho naquela cidade. O espetáculo, um dos maiores divul gadores da cultura local, é uma ópera à céu aberto, onde competem duas agremiações, o Boi Garantido, de cor vermelha, e o Boi Caprichoso, de cor azul. A apresentação ocorre no Bumbódromo, uma estrutura com formato de cabeça de boi estilizada e capacidade para 35 mil pessoas. Durante as três noites de apresentação os dois bois exploram temáticas regionais como lendas, rituais indígenas e costumes dos ribeirinhos, através de alegorias e encenações. Até 2005 o festival era realizado nos dias 28, 29 e 30 de junho, mas uma lei municipal mudou a data para o último fim de semana desse mesmo mês.


Em Parintins, um torcedor jamais fala o nome do outro Boi, usando apenas a palavra "contrário" quando deseja se referir ao opositor. Também é proibido vaiar, gritar ou manifestar-se ruidosamente de qualquer outra forma, quando o "contrário" se apresenta. Em 1965 aconteceu o primeiro Festival Folclórico de Parintins, mas a primeira disputa ocorreu somente no ano seguinte. A música executada durante a festa é a toada, acompanhada por um grupo com mais de 400 responsáveis pelo ritmo, e é ao som dela que os dois Bois dançam e cantam por um período de três horas, com ordem de entrada na arena alternada em cada dia. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica, e muitas das toadas também incluem sons da floresta e canto de pássaros.


A ópera do Boi tem um apresentador oficial que comanda o espetáculo. O levantador de toadas faz a trilha sonora e dá um show de interpretação, transmitindo empolgação à sua torcida. Todas as músicas são interpretadas pelo levantador de toadas, uma figura importante de vez que a técnica, a força e a beleza de sua interpretação não só valem pontos, como ajudam a trazer à tona a emoção dos brincantes. Além do Boi, do Amo, e da Sinhazinha, figuras típicas regionais e lendas amazônicas fazem aflorar os sentimentos de amor e paixão, enquanto alegorias gigantes, coreografias e fantasias originais, dão brilho especial à festa. No apogeu da apresentação acontece o Ritual, uma dramatização teatral comovente cujo clímax é a mágica e misteriosa intervenção do Pajé, o poderoso curandeiro e temido feiticeiro, que faz a dança da pajelança. É a apoteose da noite.


A torcida é um espetáculo à parte, pois enquanto o seu Boi se apresenta ela participa com todo entusiasmo, já que seu desempenho também é julgado. Do outro lado, os adversários permanecem em silêncio, demonstrando cordialidade, respeito e civilidade. Os jurados são sorteados na véspera do Festival, e como as pessoas da região Norte não podem ser escolhidas para desempenhar essa função, todos eles são originários de outros estados. Como requisito básico para a indicação o convidado precisa ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro, pois mais de 20 itens ligados a esses temas são julgados à luz de um regulamento simples, claro e preciso.


A cada ano, o espetáculo promete ainda mais beleza e emoção para nativos e visitantes de Tupinambarana.


Este texto também foi publicado em www.efecade.com.br, que o autor está construindo. Visite-o e deixe a sua opinião.

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